20 de junho de 2016

Domingo

Fragmento de um outro tempo; uns anos atrás.

"Ele ajeitou o cabelo desgrenhado - a mão ainda suja de tinta - e disse:
-Eu acho que estou apaixonado por você.
- Porra! Você tem certeza? - gritei. Não era esse o plano.
- É claro que tenho certeza, você acha que sou idiota? - perguntou, rindo.
- Você é idiota . - eu o lembrei.
- Você também. - ele me lembrou.
- Vou ter que concordar. - gargalhei - Mas me explica, o que a gente faz agora?
- Interessa? Eu quero poder cheirar seu cabelo, pegar sua mão. Quem sabe te beijar quando você acordar, e quero estar lá quando você precisar.
- Mas eu não vou precisar. Acho que você não tá pensando direito. A gente não tem nada a ver!
- Eu preciso de você. Provavelmente não seja pra sempre, pode ser que você acabe perdendo seu tempo, talvez realmente a gente não tenha a ver, talvez no fim a gente se odeie, e as chances de dar certo são mínimas. Mas nesse momento, eu quero viver isso com você. - sussurrou ele, sem graça e fitando o chão.
Eu fiquei em silêncio talvez um minuto ou dois... E pensei naquilo que ouvia. Mesmo sendo um erro, precisávamos fazer isso? Mas qual o motivo disso? Viver um erro, somente pra constatar que era um erro? Ele me olhava ansioso, silenciosamente implorando que eu falasse algo.
- Eu adoraria perder meu tempo com você. Não há outra pessoa com quem eu gostaria de fazer isso agora. - as palavras pularam da minha boca antes que eu pudesse ponderar meu futuro.
E dançamos, assinando um contrato com nossa solidão."


Foi um erro? Mais adiante eu descobriria que sim, seria um erro. Enorme. Gigantesco. Mas no fim, um erro que eu precisava cometer.



''I coul've been someone to you
Would have painted the skies blue
[...]
But if only you could see
My shadow crossing your path
It won't be the last baby''

2 comentários:

VH disse...

Foda! Legal conhecer esse seu lado hehehe ;)

Luiza Caetano disse...

Hahahaha algumas pessoas são como uma piscina, rasas e transparentes. Outras são como o oceano: simplesmente um mistério profundo.