Um espectro de luz reflete milhares de cores. Um som transmite milhões de vibrações. Um respiro dura vários segundos. E uma semana parece durar um milésimo. Nesse mar rouco venho navegando sem navio; não afogar é apenas consequência do esforço investido, não pirar é apenas uma realidade. Manter-se respirando, constantemente, manter-se em movimento, a todo momento. Segurar a onda, e o grito. A minha fibra transcende, e excede. Eu sou dor fogo e calor. Nesse mar rouco venho me apagando sem borracha; ser rabiscada é apenas consequência do tempo sofrido, não pirar é apenas uma realidade. As paredes oceânicas se comprimem mais e mais - a pressão aumenta. O fundo, ele me clama. Ele me implora. Mas meu lugar é aqui em cima. Meu lugar é num trono, moderado e simples, do jeito que tem que ser. Eu sou fogo dor e calor. A realeza sempre me permitiu, a grandeza sempre me oprimiu. A minha própria. Nesse mar rouco venho aguentando o tranco de um motor velho, que tenta, pela última vez, se mantar funcionando. O esforço é magnífico. Cada minuto doí, e o motor quase se dá por vencido, mas resiste.
O tique do relógio marca meia-noite. Começa o baile, a magia. Começa o conto-de-fadas. Gosto disso. Gosto de sonhar, um sonho doce, desses de criança. Mas só por um segundo. Depois olho a janela e a realidade agoniza. O mundo, ele é fétido. A podridão existe e jamais acabará. O mundo, ele decepciona. Me faz pensar, porque estamos aqui? O que eu vim fazer aqui? Fazer dessa porra um bom lugar é uma ótima - e complicada - ideia. Nesse mar rouco venho me perdendo, aos poucos, com o passar dos anos. Grata, fico, pois as ondas não só levam coisas como me trazem também. Hoje elas trouxeram o poder da sutileza. Essa pincelada sutil no mundo, que está ali, leve, estagnada, mas está. Quero existir, sutil. Existir me contextualiza.
Içar velas, marujos!
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