29 de setembro de 2010

''Inferninho''.

Ela era um poço de dor. Lábios vermelhos, quase roxos. O coração vazio, apertado. Empedrado. Pessoas se perdiam nos olhos hipnóticos e desapareciam. Ao teu caminhar, meninas choravam, meninos espiavam e avós gritavam. Ela conduzia o medo. Qualquer um que tocasse sua áurea seria meramente engolido pelo vazio nela.
 Os cabelos na altura do ombro escondiam a tatuagem no pescoço. Era uma única palavra, talvez até mesmo doce, se usada com sutileza, mas ainda assim, arrepiante. '' Tinkerhell''. Ela era um pequeno tormento. Aos catorze anos e fugiu de casa. Levou na bolsa umas mentiras, e nenhum real. Não tinha amigos, muito menos mãe; esta a abandonara. Aliás, foi abandonada pela filha. Ela era quem dava a palavra final. 
É uma equação simples. Quando você morre, as pessoas param de se importar com o que VOCÊ acha. Elas começam a se importar com o que faz mais sentido para elas. E é claro, pessoas sempre se enganam.
L. estava morta. Ou pelo menos faria de tudo para estar. Não tinha casa, amigos, família. Sequer tinha vida. ''Trabalhava'' sobre resquícios de frescor e brilho que um dia, habitaram-na. Hoje era só terrores. E não ligava; queria apenas se abster dos nós que deu em toda sua face; a surra na ganância e a dissolução da vitalidade tornou-a no que era: Um inferninho, perdido, sem destino, bem no meio de uma criatura; que um dia, já fui eu.


Ps: O texto não fala especificamente sobre fala. Cita-me, em várias partes, mas não é exclusivamente escrito sobre mim. 
                   É um texto sobre qualquer um, na verdade. Qualquer um que se encaixe, e estiver a fim de compartilhar sua dor... 
                        Enfim, obrigada. Espero que gostem. Sinceramente, L.C. 

0 comentários: